No blog Mum's the Boss:
1. Falar sobre sexualidade? A partir de quando?
Em primeiro lugar importa sensibilizar que o conceito de sexualidade não inclui apenas relação sexual e prática sexual. O erro sobre este conceito talvez seja o que mais tem dificultado a sua abordagem.
Quando falamos de sexualidade falamos de muitas coisas como género, identidade, relação comigo e com o outro, afetos, sentimentos, corpo, desenvolvimento, segurança, proteção e claro, intimidade e relação sexual. A criança apresenta desde cedo curiosidade em relação a ela e depois em relação outro e essa curiosidade potência o início de uma serie de questões, às vezes constrangedoras para os pais. As crianças exploram, desde cedo o mundo. Elas e os outros fazem parte desse mundo daí o começo desse conhecimento através da boca, do toque, da marcha, da fala…
As perguntas normalmente começam sobre as diferenças que observa e normalmente incidem sobre a temática do corpo. Os pais não devem esperar que as perguntas surjam devem aproveitar momentos de rotina da criança para lhes falarem, de forma normal sobre os temas. Por exemplo, para falar sobre as questões do corpo, podem aproveitar processo de limpeza e higiene para sensibilizar para o corpo e para o seu cuidado, e proteção das zonas intimas. As respostas devem ser objetivas e claras e claro, sempre adequadas à compreensão da criança.
2. Uma conversa com uma criança de 6 anos começa de forma diferente do que uma conversa com um jovem de 9 ou outro de 13. Como é que se começam estas conversas? E sobre o que falar, exatamente?
As crianças têm interesses de acordo com a sua idade e desenvolvimento, esses interesses podem influenciados por inúmeras variáveis, como é exemplo, o fato de terem ou não irmãos mais velhos. Aos 6 anos a criança entra na escola, é altura de sedimentar alguns conceitos relacionados com o corpo e género, já na puberdade, período que antecede a adolescência, é importante que os pais estejam atentos às alterações físicas e psicológicas que chegarão na adolescência. Uma abordagem adequada, nesta, fase pode fazer com que as crianças passem todo o processo de transformação e crescimento de forma mais segura e saudável. É importante que compreendam que não crescemos ao mesmo tempo e que meninos e meninas têm desenvolvimentos diferentes. É altura de reforçar os cuidados de higiene e abordar sem medo todas as mudanças que irão surgir. Crescimento, surgimento dos pelos, alteração da voz nos rapazes, menstruação nas raparigas e ejaculações nos rapazes (…)
3. É importante falar mas há um espaço para intimidade. Quais são essas fronteiras?
As fronteiras da intimidade devem ser definidas desde cedo, para os filhos e para os pais. É importante que os eduquemos para a sua autónomia, por exemplo nos seus rituais de higiene. Mas também é importante que o espaço, quarto, seja um lugar reservado aos pais e o dos filhos a estes. Desde cedo que o quarto dos pais deve ser mostrado como um espaço dos pais, da sua intimidade e à semelhança de outras regras, deverá haver respeito por esse espaço, ensinando-se, por exemplo, desde cedo a criança a bater à porta. Este tipo de comportamento de autonomia e respeito pela privacidade potenciam comportamentos mais adequados e saudáveis e evitam, claro, muitas surpresas. Em relação à nudez, questão levantada por inúmeras famílias, não há qualquer problema de os pais tomarem banho com os filhos se todos estiverem confortáveis nessa situação, à medida que a criança cresce isso deverá ser desencorajado e na puberdade, são as crianças que começam a esconder-se e a não estarem confortáveis, é importante respeitar este momento de passagem do corpo infantil para o do jovem adulto, por isso é importante promover a autonomia para que desde cedo as crianças possam lavar-se, vestir-se sem que sejam os pais a fazê-lo.
4. Hoje em dia há pais que sabem tanto sobre a vida sexual dos filhos como os próprios. Há outros que consideram que eles aprendem 'essas coisas' com os amigos. Onde está o meio-termo?
As crianças e os jovens devem poder ver os seus pais como um apoio e proteção mas os pais não são os melhores amigos dos filhos nesta área da intimidade. A maior parte de nós tem dificuldade em imaginar os pais, os avós, os irmãos numa situação de intimidade, porque havemos assim achar que vamos conseguir falar com os nossos filhos sobre a sua? Podemos e devemos falar com eles sobre como se podem proteger, facilitando-lhes a informação ou acesso a esta, mas não devemos estar à espera que os filhos abordem com os pais pormenores das suas fantasias ou práticas sexuais. O importante é que sem julgamentos qos pais possam ser um apoio na reflexão e tomada de decisões e que os filhos vejam neles um porto seguro a quem recorrer em caso de uma situação de risco.
5. E se a criança/adolescente não quiser falar sobre o assunto?
É normal, em algumas fases, que os filhos apresentem dificuldade em falar de vários temas, quer por desconforto e vergonha, quer por não se sentirem à vontade com os pais. Devem estão estes, questionar sobre a possibilidade dos filhos terem um momento de consulta com um profissional de saúde, por exemplo. O diálogo também é algo que se estabelece através da confiança, se um pai ou mãe nunca conseguiram estabelecer essa proximidade, dificilmente o vão conseguir fazer nesta fase de tão grandes mudanças. Uma educação que assenta em confiança e respeito é uma forma de facilitar mais tarde a abordagem de diversos temas, sem medos. Ainda assim podem haver jovens que preferem esclarecer-se com outra pessoa e nessa altura, os pais, devem estará tentos e perceber que talvez devam sair das suas consultas de rotina, deixando o jovem à vontade ou propor-lhe um aconselhamento especializado.
6. As primeiras férias sem os pais e só com os amigos - os pais devem aconselhar, entregar proteções ou estão a 'pôr a carroça à frente'?
Quando os filhos fazem férias sem os pais partimos do pressuposto que já deverá haver uma relação de confiança, que se conhecem os amigos… com estas condições reunidas será apenas importante reforçar as questões de cuidado e prevenção de riscos. As questões da prevenção de riscos já deverá ter sido um tema abordado, antes desta fase, para que os pais não fiquem agora angustiados. Não é porque disponibilizamos preservativos aos filhos que eles vão a correr fazer sexo, não é porque falamos com eles sobre relação sexual que vão a correr experimentar. Os estudo mais recentes respondem a este fato de forma importante, quanto mais esclarecidos os jovens estão mais se protegem e são nos grupos constituídos por jovens mais novos onde se registam maiores cuidados na prevenção dos riscos. Mais uma vez é importante que se alerte os filhos para situações potencialmente mais perigosas, como o consumo do álcool que potencia tantas situações de violência sexual, devido à incapacidade de tomar uma decisão consciente, às vezes observo com tristeza como mais facilmente se dá um copo de álcool a um jovem do que uma caixa de preservativos, isso deve nos fazer refletir.
7. Para falarem sobre sexualidade, os pais devem compreender a sua própria sexualidade e estar à vontade com ela. E quando não estão? O que fazer?
Esta é uma questão muito importante, verificamos que muitos tabus nos jovens surgem ainda da família, por exemplo inúmeras meninas na puberdade nem querem ouvir falar dos tampões porque ainda lhes é dito que tira a virgindade… Alguns pais continuam a não conversar com os filhos e a achar que a educação sexual não faz qualquer sentido. A educação sexual no meio familiar promove a confiança e coesão na família e se não estamos preparados para abordar com os nossos filhos determinadas situações devemos recorrer a ajuda de especialistas. Uma das causas de suicídio de jovens na adolescência, por exemplo, deve-se a questões de orientação sexual, em que os jovens não encontram na família espaço de dialogo, respeito e aceitação. Estamos num momento de grandes mudanças, o mundo grita diversidade enquanto as nossas mães ainda liam, Laura Santos, A mulher na mesa e na cozinha. Não podemos negar as nossas raízes de castração mas temos de estar preparados para as mudanças sociais que hoje chegam às nossas casas. A educação sexual não formal é constante e é cada vez mais difícil conseguir perante tanto estímulo externo educar de acordo com os nossos valores, mas estes são necessários. Por isso acreditamos que a educação sexual na família é o território mais fértil para a prevenção dos comportamentos de risco e para a promoção do desenvolvimento saudável das nossas crianças e jovens, por isso não podemos entregar esta responsabilidade apenas aos outros, urge que façamos uma reflexão pessoal sobre as nossas limitações, sobre como nos educaram e depois se percebermos que o leme não pode ser só nosso partilha-lo com quem possa apoiar nos neste desafio.
Quem melhor para nos falar sobre sexualidade que a nossa querida Vânia Beliz, uma profissional fora de séria nesta área.